De manhã cedo a cidade dirigia-se para lá. Donas de casa apressadas contavam tostões no porta-moedas, assediadas por cabeças de homens adultos em corpos de bebé, cotos nas extremidades de braços e de pernas, olhos de onde tinham desaparecido as pupilas, tumescências surgindo de crânios rapados, bebés raquíticos fundidos no colo de mulheres gordas e tudo o mais que rendesse esmola. Os comerciantes escancaravam portas e mercadoria, deixando voar as fazendas porta fora e tilintar as panelas e as colheres de pau. Meios torsos de porcos e bovinos dançavam nos ganchos, abrindo caminho aos aromas das flores e dos frutos que anunciavam a proximidade do centro do mercado. Aí, segundo a minha mãe, as lavradeiras carregadas de legumes e arrecadas de ouro, roubavam no peso das batatas. Junto aos portões de ferro afunilava-se o formigueiro sob a nuvem que os tubos de escape dos autocarros deixavam na rua junto com os passageiros. Suspendia a respiração até se desvanecer a nuvem enegrecida que ao diluir-se no ar da manhã, voltava a imprimir nos passeios os mendigos estropiados, como sebastiões revelados em manhãs de nevoeiro.
Sem comentários:
Enviar um comentário