Encontrei a fotografia que tirei para o meu primeiro bilhete de identidade, pouco depois do 25 de Abril. Um vestido estampado com flores vermelhas e golas redondas rendadas rentes ao pescoço. Sufocavam-me as golas. Sufocaram-me ainda por muito tempo.
No Registo Civil havia uma fila de crianças que entravam por uma porta e saíam por outra, exibindo um dedo negro muito levantado. Registaram as linhas do meu dedo indicador direito e a minha altura no metro de pau, que teve de ser ajustado acima das medidas de criança porque eu era muita alta para a minha idade. Os bilhetes demoravam imenso tempo a chegar. Tudo o que era feito em Lisboa atrasava-se uma eternidade, excepto as cartas de condução que demoravam menos tempo porque lá eram mais fáceis de comprar. Passava, semana sim semana não, no Registo Civil para perguntar se já tinha chegado. Quando chegou, o meu bilhete de identidade democrático era igualzinho ao bilhete de identidade fascista da minha irmã.
No Registo Civil havia uma fila de crianças que entravam por uma porta e saíam por outra, exibindo um dedo negro muito levantado. Registaram as linhas do meu dedo indicador direito e a minha altura no metro de pau, que teve de ser ajustado acima das medidas de criança porque eu era muita alta para a minha idade. Os bilhetes demoravam imenso tempo a chegar. Tudo o que era feito em Lisboa atrasava-se uma eternidade, excepto as cartas de condução que demoravam menos tempo porque lá eram mais fáceis de comprar. Passava, semana sim semana não, no Registo Civil para perguntar se já tinha chegado. Quando chegou, o meu bilhete de identidade democrático era igualzinho ao bilhete de identidade fascista da minha irmã.
2 comentários:
qualquer bi tem sempre um carácter algo fascizante, é o que é
pois é Ana :)
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