Este texto de Desidério Murcho no Público e também no Rerum Natura vem muito de encontro ao que penso sobre a "prostituição da cultura".
«(...) basta folhear um suplemento cultural de um jornal para se encontrar um uso peculiar das palavras, em que estas perderam o poder de invocar pensamentos identificáveis, colocando-se ao invés toda a ênfase na transmissão da mensagem infantil de que o autor é culto — e com isso tudo o que se pretende realmente dizer é que é superior a nós, mais elevado, mais próximo dos deuses do Olimpo: um aristocrata.»Esta aristocracia cultural não sobrevive sozinha, fechada no seu círculo de eleitos, porque se alimenta da ignorância da maioria. Usam as fontes de conhecimento dessa maioria, como os jornais, revistas e blogues para chegarem a uma audiência alargada, não para transmitirem conhecimento (que é nenhum devido aos códigos que usam para complicarem a mensagem), mas para legitimarem a existência da sua elite. Apresentam uma arrogância que acaba por torná-los vítimas do desprezo, não só daqueles que possuem conhecimento a par de uma preocupação legítima em transmiti-lo, como dos que não o têm e se sentem um pouco como o proletário de Marx subjugado pelo capitalista, excluído de algo que deveria ser do bem comum.
2 comentários:
Obrigado pela referência!
Com prazer meu. Gosto muito de o ler.
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